Jornadas de Junho, midiativismo, narrativa colaborativa e emergência na rede distribuída da Internet

Este artigo se propõe a investigar o processo de midiativismo insurgente nas manifestações de 2013 potencializado pelas redes sociais. Analisa como as redes facilitaram a difusão de um sistema de mídia horizontal e descentralizado estudando como os novos processos de produção promovem uma mudança nas relações e dinâmicas dos sistemas de comunicação e informação, seja pautando reportagens, seja construindo disputas e espaços políticos em ambientes virtuais.
Em meio as discussões políticas e sociais suscitadas à época, ganhou destaque a atividade dos midiativistas. Munidos de aparelhos portáteis de captura de som e imagem com seus canais de vídeo, portais e páginas em redes sociais, estes peripatéticos produtores de conteúdo revolucionaram a forma de produzir e trabalhar com a informação.
Durante a “primavera brasileira”, os midialivristas subverteram as narrativas dos oligopólios de comunicação. A proliferação de blogs, canais de youtube, de streamings e o compartilhamento de suas produções nas redes sociais como o Facebook, Twitter e outros, promoveram um levante informativo que trasbordou todas as barreiras colocadas pelo paradigma da comunicação tradicional. A cobertura colaborativa emergente, potente enquanto movimento oriundo de inúmeros nós dentro da rede distribuída da internet, não demorou em superar os discursos consensuais e monolíticos dos grandes noticiários da TV aberta, capas de jornais e revistas, que não foram capazes de deter o mar de vozes divergentes.
Campanhas de criminalização das lutas foram contrapostas por narrativas de legitimação vindas diretamente das ruas. Se na imprensa convencional tínhamos imagens frias, capturadas por caríssimas câmeras em helicópteros, por outro se multiplicaram imagens orgânicas produzidas em meio as barricadas, fumaça e correria. E, muitas vezes, o enxame comunicacional aparentemente frágil, conseguiu se contrapor e se impor, ainda que localizadamente, ao poderio das mega corporações de comunicação.
Em um cenário onde o capitalismo cognitivo impõe mudanças nas formas de produção, as estruturas políticas típicas do paradigma moderno da centralidade entram em crise. A democracia representativa começa a ser questionada por movimentos que em muito se diferem dos tradicionais partidos e organizações políticas. E em meio a estes questionamentos surge também um ambiente vívido, marcado pela criatividade e colaboração, onde linhas de fuga são traçadas para transcender o sistema de controle do poder constituído.

Tipo de arquivo: 
Artigo
Ano: 
2015