Construção coletiva do conhecimento no Facebook. “Juntos, aprendendo sobre HIV e Aids”

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Autoras: Monica Lucia Gomes Dantas, Teresa Cristina Mafra, Gabriela Silva dos Santos

Pareceristas: Rita de Cássia Machado e Cristiane Koehler

Resumo

Este trabalho tem como objetivo analisar a construção coletiva do conhecimento no Facebook“Juntos aprendendo sobre HIV e AIDS”. A metodologia utilizada foi a Etnografia Virtual, método que tem como principal característica a imersão na realidade investigada. Os resultados demonstram que os membros do grupo compartilham informações sobre o vírus e a doença que julgam mais corretas, e que procuram por esta informação preferencialmente na internet. As experiências pessoais e temas do cotidiano do portador do HIV são privilegiadas na interação entre os internautas. O processo de construção coletiva do conhecimento parece ocorrer nas trocas entre os usuários do grupo.

Introdução

Para iniciarmos este artigo faremos um breve histórico do surgimento da internet e de seu crescimento no Brasil. Incluiremos a expansão da Web 2.0 e o consequente aumento das possibilidades de compartilhamento da informação pelos internautas.

A Internet atual surgiu de uma rede idealizada em meados dos anos 60, como uma ferramenta de comunicação militar alternativa, que fosse capaz de resistir a um conflito nuclear mundial (MONTEIRO, 2001).

A Rede foi desenvolvida em um ambiente acadêmico, com o financiamento de um órgão militar americano, em 1958: a Advanced Research Projects Agency (ARPA), em plena Guerra Fria, na busca de uma descentralização da comunicação e armazenamento de dados. Uma curiosidade observada no site Tecnomundo:

Se você nasceu depois de 1994, acredite: houve uma época em que não tínhamos internet. Ou melhor, a internet até existia, mas o acesso a ela era restrito a militares e pesquisadores. Para piorar, no início a rede mundial de computadores servia basicamente para troca de emails, já que as páginas da web ainda não haviam sido inventadas 1 

O envio do primeiro email é datado de 1971, sendo seguido sete anos mais tarde pela criação do Bulletijn Board System (BBS), sistema criado por dois entusiastas de Chicago com o intuito de convidar amigos para eventos como também realizar eventos pessoais (DAquino, 2012). Segundo DAquino, se retrocedermos ao ano de 1969 podemos observar os primeiros relatos de serviços com características de socializar dados: O CompuServe, serviço comercial de conexão à internet com alcance internacional, que foi bastante difundido nos EUA.

No Brasil, as primeiras iniciativas no sentido de disponibilizar a internet ao público em geral começaram em 1995, com a atuação do governo federal (através do Ministério da Comunicação e do Ministério de Ciência e Tecnologia), no sentido de implantar a infra-estrutura necessária e definir parâmetros para a posterior operação de empresas privadas provedoras de acesso aos usuários (MONTEIRO, 2001).

De acordo com Dizard, ainda em 2000, a internet era um sistema de redes de computadores interconectados mundialmente, atingindo na época mais de 150 países e reunindo cerca de 300 milhões de computadores (DIZARD, 2000). De 2000 a 2009, o número de usuários da rede mundial no mundo subiu de 394 para 1,858 bilhão. Em 2010, 22% da população mundial tinha acesso a computadores com 1 bilhão de buscas no Google todos os dias, 300 milhões de usuários de internet lendo blogs e 2 bilhões de vídeos assistidos diariamente no YouTube2 .

O acesso à internet no mundo e no Brasil desde então cresceu de forma acelerada. No país, especialmente o acesso por celular mais do que triplicou nos últimos três anos. Segundo a pesquisa TIC domicílios 2014, 47% dos brasileiros com 10 ou mais anos utilizaram o celular para navegar na web. O número de domicílios brasileiros com conexão à internet foi de 50%. Na região Sudeste, 60% dos entrevistados tinha acesso, e na região norte, 35%.  Na classe A, a proporção de domicílios com acesso à internet foi de 98%, enquanto nas classes D e E apenas 14% estavam conectados. Nas áreas urbanas, a proporção foi de 54%, e nas rurais foi de 22%.  (TIC Domicílios 2014)

Atualmente, estamos na era da Web 2.0 e é nesse contexto de interação entre internautas e construção coletiva do conhecimento que este artigo está situado.

Na Web 2.0 segundo O’Reilly (2005) há a passagem da emissão (modelo transmissionista) para a participação ativa dos internautas. Este autor conceitualiza o termo Web 2.0 como a “mudança para uma internet como plataforma… a regra mais importante é desenvolver aplicativos que aproveitem os efeitos de rede para se tornarem melhores quanto mais são usados pelas pessoas, aproveitando a inteligência coletiva” (O´REILLY, 2005, p. 3).

Nesta Web interativa todos participam da construção do conhecimento, compartilhando informações sobre temas determinados. A qualidade da informação disponibilizada pode ser questionada e debatida pelos participantes das comunidades virtuais. O conhecimento pode ser construído coletivamente, especialmente nas redes sociais virtuais.

Segundo o Dicionário Contemporâneo da Língua Portuguesa, “informação vem do latim informatio, onis, (“delinear, conceber ideia”), ou seja, dar forma. Já conhecimento, (do latim cognoscere)  é o ato ou efeito de conhecer algo. Existem vários tipos de conhecimento, entre eles o conhecimento científico. Para os fins deste artigo, o conhecimento a que nos referimos é aquele construído coletivamente, ou seja, aquele que é construído colaborativamente nas redes sociais da internet3

Apesar das críticas que alguns autores fazem  ao conceito, a Web 2.0 marcou o uso do potencial colaborativo da internet. Neste contexto, este artigo tem como finalidade analisar a interação entre os membros do Facebook “Juntos, aprendendo sobre HIV e AIDS” e o processo de construção coletiva do conhecimento sobre o vírus e a doença neste Facebook.

Redes sociais virtuais 

As redes sociais podem ser primárias ou secundárias. As redes primárias compreendem as relações de familiaridade, vizinhança e amizade, além das interações virtuais, nas quais podem ser estabelecidas formas de apoio para pacientes e familiares em relação ao enfrentamento de condições crônicas (STOTZ, 2009).

As redes sociais virtuais são ambientes heterogêneos nos quais a comunicação é o resultado de um processo mais amplo. Nos sistemas complexos, a comunicação é associada a sincronização entre diferentes atores. O ato de comunicação faz parte da produção do conhecimento e da organização das ações4 .

Redes sociais, como Facebook, MySpace, Twitter, entre outras, têm criado uma nova forma de socialização e interação. Os usuários desses serviços são capazes de adicionar uma grande variedade de itens às suas páginas pessoais, de indicar interesses comuns, e de entrar em contato com outras pessoas. É possível encontrar um grande círculo de conhecimentos existentes. E também compartilhar informação sobre assuntos de interesse comum.

O grande número de blogs e sites para pacientes mostra que muitos estão interagindo nas redes sociais virtuais (VELDEN; KALED, 2013). Para Press (2010) o Facebook tem sido um ponto importante de encontro online, com mais de 400 milhões de usuários registrados em todo o mundo (na época). Nele, existem inúmeros sites de grupos sobre doenças, especialmente as crônicas, representando informação e apoio para pacientes e seus familiares (SHAPIRO, 2009).

O empoderamento dos pacientes através da busca da informação na Web e seu compartilhamento nas redes sociais propiciou o aparecimento do paciente expert ou paciente informado. Para Garbin, Pereira Neto e Guillam (2008) “Os doentes e suas motivações para a busca de informações na internet têm levado à configuração das ‘comunidades virtuais’. Este fenômeno sociológico, extremamente interessante, tem se organizado nos últimos anos” (GARBIN, PEREIRA NETO, GUILLAM, 2008. p. 580).

Para esses autores, as comunidades virtuais desempenham um papel fundamental, oferecendo apoio aos pacientes sobre “as questões humanas do adoecer” (GARBIN, PEREIRA NETO, GUILLAM, 2008. p. 586). Permitem também que as informações sobre o problema de saúde sejam trocadas entre os interessados. Portanto, consideramos que as comunidades virtuais são o espaço onde o conhecimento é construído coletivamente tendo como base a busca pela informação pelos internautas, preferencialmente na internet.

O Facebook

Facebook é uma rede social que foi lançada em 4 de fevereiro de 2004, operado e de propriedade privada da Facebook Inc. Em 4 de outubro de 2012, o Facebook atingiu a marca de 1 bilhão de usuários ativos, sendo por isso a maior rede social em todo o mundo5 .

Entre uma série de recursos disponíveis, os usuários podem participar de grupos de interesse comum. Muitos grupos são de portadores de doenças crônicas e seus familiares. Constituem ambientes de sociabilidade onde ocorrem trocas de informações sobre essas doenças. Há também o aspecto do apoio mútuo e do empoderamento de seus membros.

Existem vários grupos no Facebook sobre HIV e AIDS. A rota de busca foi pensada inicialmente de forma a contemplar grupos brasileiros. Outra questão para a seleção do grupo seria a ênfase na construção coletiva do conhecimento sobre HIV e AIDS, tema deste artigo. Muitos grupos tinham outros temas, como a testagem, e a sorodiscordância, por exemplo.

O grupo escolhido para a pesquisa etnográfica foi o “Juntos, aprendendo sobre HIV e AIDS”, por reunir um grande número de membros ativos, e, principalmente, pelo aspecto do compartilhamento da informação sobre o vírus e a doença.

Facebook “Juntos, aprendendo sobre HIV e AIDS”

Facebook 1

Figura 1. Facebook “Juntos aprendendo sobre HIV e AIDS”

Este grupo nos pareceu emblemático no que se refere à construção compartilhada do conhecimento sobre HIV e AIDS, especialmente por sua proposta. Uma das regras do grupo é sobre o compartilhamento da informação: “Acolher, Informar, Multiplicar Informações relativas à Doença, entre duas etapas: HIV, AIDS. Atentar sempre para as diferenças.”

Na descrição do grupo encontramos:

Este grupo é para ensinar, aprender, ajudar a esclarecer dúvidas e elucidar a sorologia de uma pessoa que tenha passado por uma situação de risco. O nosso trabalho é pautado também no amparo, no acolhimento, no “dar a mãos” sempre que alguém precisar… a prevenção e/ou vacina do HIV são a informação e a prevenção…”

Estas são algumas regras do grupo que nos pareceram em consonância com o processo de compartilhamento da informação e construção coletiva do conhecimento:

  1. Seguir normativas técnicas do Programa Nacional DST AIDS: Os SAES (Serviços de Atenção Especializada) seguem e atendem universalmente as pessoas em exposição de risco. (www.aids.gov.br)
  2. Serão aceitos e postados tópicos de teor científico, como, pesquisas, informações, orientações, e principalmente PREVENÇÃO e INFORMAÇÕES CORRETAS DE CONTÁGIOS.
  3. Combater acima de tudo O PRECONCEITO E EXCLUSÕES SOCIAIS relativas à Doença do HIV e os estigmas da AIDS. Temos, inicialmente a obrigação em ensinar.
  4. Enquetes, explanações, pensamentos, frases, banners, fotos, textos científicos, Vídeos, tudo o que for RELATIVO À PREVENÇÃO E ORIENTAÇÃO SOBRE HIV E AIDS, podem ser postados.

HIV E AIDS

O Vírus da Imunodeficiência Humana (VIH ou HIV, do inglês Human Immunodeficiency Virus) pode originar a SIDA ou AIDS (Síndrome da Imunodeficiência Adquirida), uma condição na qual a deterioração progressiva do sistema imunológico propicia o desenvolvimento de infecções oportunistas. O HIV está presente nos fluidos corporais, portanto as principais vias de transmissão do vírus são as transfusões de sangue (quando não há monitoramento), relações sexuais desprotegidas, compartilhamento de seringas contaminadas, na gravidez ou na amamentação6 .

Uma parcela significativa das pessoas infectadas com HIV, quando estão sem tratamento, pode desenvolver a AIDS ou SIDA. O tratamento com antirretrovirais aumenta a esperança de vida de portadores do HIV, mesmo que a infecção já tenha evoluído para um diagnóstico de AIDS. Com novos medicamentos sendo pesquisados e produzidos continuamente, a expectativa de vida dos portadores do vírus passou para aproximadamente 20-50 anos (provavelmente, esta expectativa pode ser ainda maior).

Ter o HIV não é a mesma coisa que ter a AIDS. Há muitos soropositivos que vivem anos sem apresentar sintomas e sem desenvolver a doença (BRASIL, Departamento de DST, AIDS e hepatites virais.

Método

O método empregado na pesquisa foi a Etnografia Virtual. A filosofia da pesquisa etnográfica está baseada na compreensão da existência social como resultante do encontro e do relacionamento. Nesse encontro surgem todas as formas de solidariedade, trocas,conflitos e compartilhamentos (LEECCC, 2013).

Os produtos da pesquisa etnográfica são descrições ricas da cultura sob estudo. O etnógrafo encontra-se diante de diferentes formas de interpretações da vida, formas de compreensão do senso comum, significados variados atribuídos pelos participantes às suas experiências e vivências (ANDRÉ, 2012). Já para Uzzell e Barnett (2010), a essência da etnografia é entender os padrões de comportamento e as atitudes de uma cultura que dão às pessoas o sentimento de serem membros de um grupo, o que requer que o pesquisador estude as culturas sem preconceito e esteja consciente de suas próprias crenças, atitudes, comportamentos culturalmente específicos e de como eles podem influenciar a interpretação do que está sendo estudado.

A etnografia virtual, conhecida como webnografia, ciberantropologia, netnografia, etnografia digital, dentre outras, estuda as práticas sociais na internet e o significado destas para os participantes (HINE, 1998). Permite um estudo detalhado das relações nos espaços virtuais, nos quais a internet é a interface cotidiana da vida das pessoas e lugar de encontro que permite a formação de comunidades, grupos estáveis e a emergência de novas formas de sociabilidade. Estuda as experiências pessoais que emergem na comunicação mediada pelo computador, especialmente nos jogos de papéis  a partir das observações de campo e entrevistas em profundidade realizadas na internet (TURKLE, 1997).

A pesquisa etnográfica foi realizada no período compreendido entre 20 de julho e 02 de agosto de 2015. Preferimos o posicionamento como Lurkers7 , no qual não há interação com o grupo estudado.

Postagens anteriores a este período também foram incluídas. Priorizamos os posts nos quais houve comentários de vários internautas a respeito da informação disponibilizada no grupo (as postagens foram mantidas em sua formatação original).

Resultados

Observamos intensa interação entre os membros do grupo, com muitas trocas de experiências e relatos pessoais. Observamos, entretanto, que algumas postagens sobre novos medicamentos e avanços da ciência em relação à AIDS não foram comentadas pelos internautas, apesar de poderem representar possíveis avanços no tratamento:

Post de 12 de junho:

SUS incorpora novo medicamento antirretroviral para portador do HIV – três curtidas. Sem comentários.

Post de 26 de maio:

Truvada: O Medicamento que Pode Revolucionar a História da AIDS e Está Causando Processos Contra o SUS. Sem comentários.

Post de 20 de maio:

Cientistas descobrem modo de destruir vírus da AIDS. Três curtidas. Sem comentários.

Nas postagens que buscam elucidar dúvidas e obter esclarecimentos sobre alguns aspectos da infecção pelo HIV, no entanto, observamos vários comentários dos internautas, sobre a carga viral8 e o exame CD49 :

Post de 2 de junho:

Sobre o possível fim dos exames de carga viral: agora fiquei mais tranquila.
Link para página externa: Considerações do Dr. Alexandre Naime Barbosa sobre o testar e tratar e o fim do teste do CD4.

Comentários:

– Belíssima explicação do dr, mas o que vem acontecendo é que ninguém está se dando conta tem a ver com a realidade política do nosso país, onde recursos nossos estão sendo retirados na cara dura por nossos governantes, com a desculpa de suprir outras áreas carentes… Ai eu pergunto…. Sera mesmo que o exame de cd4, sendo parcialmente retirado não seria mais uma jogada política????? Internauta A.

– Essa semana fui convidado para uma pesquisa que será realizada por um dos infectologista que já foi meu médico, se não estou enganado, trata-se de um infecto holandês, assumidade em HIV/AIDS, que virá ao Brasil… É que fiquei indefectível em muito pouco tempo… minha primeira carga viral encontrava-se baixa 14. Nunca tive uma febre, nunca tive uma diarreia, meu cd4 oscila apesar de estar acima de 200. Internauta B.

Post de 9 de maio:

Qual o dano causado a saúde com a carga viral alta?

Comentários:

– Carga viral alta ou subindo indica progressão do adoecimento por AIDS. O ideal é que ela esteja indetectável se o paciente está fazendo uso de ARVs, converse com o seu médico para maiores esclarecimentos. Abraço!   Internauta C.

– dá uma olhada aqui Internauta D.

Alguns internautas manifestaram conhecimento sobre as variedades do vírus HPV e aconselharam o uso de preservativos, como pode ser observado no post seguinte:

Post de 22 de julho:

Uma pergunta? É mais seguro fazer amor sem camisinha com outro soropositivo indetectavel que esteja em tratamento a 3 anos e que teve hpv, sifilis e hepatite C, ou com alguem que nao sabe de sua situação e que tenha feito sexo sem camisinha com outro e as vezes diz nao ser positivo e o ultimo exame foi ano passado…Por favor me ajude nesta questã0?

Comentários:

– Usar o preservativo. Você mesmo disse: Você está conhecendo. Ainda não é nada sério. Quando for, ainda acho melhor usar o preservativo e evitar qualquer tipo de problemas futuros. Hoje estamos cansados de saber que a vida de um soropositivo melhorou em muito, não sou soropositivo pra lhe dizer por experiência, mas tenho acompanhado e estudado sobre e é perceptível. Porém, vemos que não é um tratamento fácil, algumas pessoas se adaptam bem e outras não, algumas pessoas conseguem manter um sistema imunológico estável e outros tem uma chance maior de desenvolver oportunistas, outros se quer precisam de medicamentos. Então é melhor NÃO correr o risco por mais baixo que ele possa ser. Em uma relação em que há amor, há compreensão e isso pode ser conversado, inclusive entre vocês e o infectologista, que eu garanto que vai recomendar primeiramente o preservativo. Internauta E.

– Nada é 100% seguro! O indicado é usar o preservativo ou assumir as consequências da infecção pelo HIV ou de outra infecção sexualmente transmissível, e no caso dos parceiros serem positivos tem o risco da troca de cepas diferentes do HIV. Só existe uma razão para transar sem camisinha que é para gerar filhos (bebês). Internauta F.

– Cepa: um tipo ou variedade de vírus. No caso do HIV, elas são muito heterogêneas, sem que duas sejam exatamente iguais. Quando o HIV é isolado de um indivíduo e estudado em laboratório, ele é freqüentemente “batizado” com seu próprio nome identificador ou nome da cepa (i.e., MN, LAI). Link. Internauta F.

Uma reportagem polêmica sobre o vírus HIV provocou postagens controversas sobre a necessidade do início da medicação. Outra questão é se o aumento da carga viral determina o momento para o início da medicação.

Post de 8 de maio:

Bomba! “O HIV é um vírus inofensivo e não transmite a AIDS”, afirma ganhador do Nobel. Link para página externa.

Comentários:

– “Entre 1999 e 2007, o governo da África do Sul implementou políticas de saúde de combate à AIDS baseadas nas teorias de Duesberg. Tais políticas foram totalmente mal-sucedidas, causando mais de 300 mil mortes no país neste período, e em consequente impacto na reputação de Peter Duesberg e descrédito na Hipótese de Duesberg.” Fontes originais constam no artigo. Internauta G.

– Ler esse tipo de informação me deixa muito confuso… As vezes prefiro não ficar lendo… Isso nos deixa mas paranoico…Não sei em quem acreditar? No meu médico? Na internet? Cada fonte de notícia nos traz algo diferente. Então é muito relativo…As vezes me sinto lesado!!! Já li cada reportagens inúteis. E acho que essa só não passa de mais uma. Internauta H.

– sou HIV + a 16 anos e n tomo medicação, meu médico já me falou q eu deveria tomar, mas como meu cd4 é bom, não vou envenenar meu corpo, qndo ele abaixar eu tomarei… Internauta I.

Este post sobre o tempo de vida reservado aos portadores do HIV suscitou 34 comentários. Alguns internautas ressaltaram a importância das fontes confiáveis de informação.

Post de 6 de maio:

Comentários:

– Hoje ouvi na CBN e depois ouvi dizer que passou na globo que o portador de HIV tem só no máximo 10 anos de vida. Kkkkkk que idiotas e os retrovirais? E ser indetectável? Tenho amigos que tem o virus a 23 anos e mal tomam o retroviral. Que noticia idiota… Internauta J.

– HIV ou AIDS, Diabéticos, Cardíacos, Ahlzeimer, Parkinson, Tumor, Câncer e outras doenças e os que estão vivos e saudáveis sem nenhuma doença, um dia também morrerão, pode ser até amanhã. Pra morrer basta estar vivo. Internauta K.

– Verdade nao se morre por causa dos ATRV,POREM, AOS EFEITOS COLATERAIS AO LONGO DO TEMPO PQ SAO MUITO TOXICOS AOS NOSSO ORGAOS. EXISTE UM BLOG CHAMADO: PRAZER,ALEXANDRE,LÁ ELE EXPLICA TUDO ISSO.SAO SÓ INFORMAÇOES QUE DEVEMOS DEBATER . Internauta L.

– Esse blog eu conheço há ANOS, me desculpa amigo, procura fontes confiáveis de pesquisa, não BLOG’s. Blog é pag pessoal cada um coloca oq bem quer, ou vc procura uma nutricionista pra falar sobre sua situação financeira. Desculpa não tenho nada contra sua pessoa, mas pra se informar faz pesquisa, em fontes confiáveis, depois compara com pessoas PRÓXIMAS, faça averiguações varias pra vc vê, e ter sua própria conclusão. Internauta M.

Discussão

Segundo Lévy, “uma comunidade virtual é construída sobre as afinidades de interesses, de conhecimentos, sobre projetos mútuos, em um processo de cooperação ou de troca, tudo isso independentemente das proximidades geográficas e das filiações institucionais” (LÉVY, 1999, p. 127).

Na comunidade virtual pesquisada os participantes têm em comum o interesse em compartilhar informações corretas sobre o HIV e a AIDS. O grupo também procura propiciar apoio mútuo e acolhimento aos seus membros. As dificuldades dos portadores do vírus no dia a dia parecem promover o diálogo e o compartilhamento da informação, no sentido do empoderamento dos membros do grupo.

O que nos pareceu mais evidente na análise das postagens e da interação entre os internautas membros do grupo é que relatos pessoais e pedidos de esclarecimentos sobre o HIV, AIDS, medicamentos, efeitos colaterais, etc, mobilizaram mais a participação e a busca dos membros do grupo pela informação considerada mais correta e adequada. As discordâncias entre os internautas pareceram motivar essa busca da informação mais precisa, preferencialmente na internet. Amigos, médicos e outros pacientes também podem auxiliar este processo, mas a fonte de busca principal nos pareceu ser a Rede.

Uma das postagens no grupo cita “fontes confiáveis” de pesquisa, o que parece indicar que, para este internauta, nem toda informação sobre HIV e AIDS na internet está correta. Dessa forma, para ele, o indivíduo deve consultar várias fontes, conversar com outras pessoas, e aí sim, tirar suas próprias conclusões.

Para Castiel e Vasconcellos-Silva (2002) a questão da qualidade da informação sobre saúde na internet envolve as seguintes questões:

Em termos globais, as preocupações quanto a qualidade da informação estão voltadas para: educar o consumidor, estimular a regulação dos emissores de informação em saúde, possuir instâncias não comprometidas para avaliar a informação e estabelecer sanções em casos de disseminação nociva ou fraudulenta de informação (CASTIEL, VASCONCELL0S-SILVA, 2002, p. 304).

Considerações finais

Para Braga (2009) a inteligência coletiva emerge das interações sociais que ocorrem por meio das tecnologias digitais. Esta é compreendida como as interações geradas entre os indivíduos pertencentes a um sistema de comunicação, as quais constituem um capital social produzido pelas interações sociais.

A inteligência coletiva diz respeito a um princípio no qual as inteligências individuais são somadas e compartilhadas por toda a sociedade, sendo potencializadas a partir do surgimento de tecnologias de comunicação como a internet. Para o Lévy, a inteligência coletiva possibilita o compartilhamento da memória, da imaginação e da percepção dos indivíduos, o que resulta na aprendizagem coletiva (WIKIPEDIA).

O processo coletivo de criação de conhecimento do grupo pesquisado depende, portanto, da contribuição individual de seus integrantes e da interação que ocorre entre eles. A discordância em relação à informação postada por um ou mais membros dessa comunidade virtual pode levar os demais a buscarem outras informações, preferencialmente na internet, que considerem mais corretas.

Em relação à carga viral isto ficou evidente, pois alguns internautas questionaram se esta poderia indicar progressão para a AIDS, caso estivesse em altos níveis. Ou mesmo se seu aumento é o fator determinante para o início da medicação com os antirretrovirais.

A partir de tais questionamentos, novas perspectivas poderão ser criadas. Com base nessas interações de pessoas vivenciando o mesmo problema de saúde, o conhecimento começa a ser coletivo.

Notas

1. http://www.tecmundo.com.br/internet/8949-20-anos-de-internet-no-brasil-aonde-chegamos-.htm

2. https://pt.wikipedia.org/wiki/Internet

3. https://pt.wikipedia.org/wiki/Informação  e  https://pt.wikipedia.org/wiki/Conhecimento

4. http://www.wiki.next.wiki.br/action/view/Eixo_das_Redes_Sociais_na_Sa%C3%BAde

5. https://pt.wikipedia.org/wiki/Facebook

6. https://pt.wikipedia.org/wiki/V%C3%ADrus_da_imunodefici%C3%AAncia_humana

7. Lurker, na cultura da internet, é alguém que lê as discussões em fóruns, grupos de notícias, chats ou compartilhamento de arquivos, mas nunca ou raramente participa de forma ativa. Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Lurker.

8. Carga viral é um exame que conta a quantidade de vírus presente em uma certa quantidade de sangue. Utilizando a quantidade de RNA viral presente em uma amostra de plasma sanguíneo pode ser feito uma estimativa para quantos vírus existem no organismo e do impacto que eles terão na saúde do paciente. Fonte: http://vivercomhiv.com.br/2015/04/16/carga-viral/

9. As células CD4 são as células mais importantes do sistema imunológico.
CD4 – Valores de referência para adultos:
CD3: 723 – 2737 cel/ul.
CD4: 404 – 1612 cel/ul.
CD8: 220 – 1129 cel/ul.
Observações:
entre 500 e 1200 = normal em pessoas soronegativas para a infecção pelo HIV
acima de 350 = o tratamento anti-retroviral não é, normalmente, recomendado
abaixo de 350 = o tratamento anti-retroviral é recomendado
abaixo de 200 = há um risco agravado de doença e infecções, pelo que o tratamento anti-retroviral é recomendado.

Fonte: Viver com HIV

Anexos

1. Vídeos postados no grupo:

Uma aula

Chá dos cinco

 

O cartaz HIV positivo

Ariana Senna – História positiva

2. Links para outras páginas, postadas no grupo:

A pior doença causada pelo HIV não é a AIDS

Considerações do Dr. Alexandre Naime Barbosa sobre o testar e tratar e o fim do teste de CD4

Bomba! “O HIV é um vírus inofensivo e não transmite a AIDS”, afirma ganhador do Nobel

Carga viral

Cientistas descobrem modo de destruir vírus da AIDS

Referências

ANDRÉ, MEDA. Etnografia da prática escolar. 18º Ed.Campinas, SP: Papirus, 2012. (Série Prática Pedagógica).

BRAGA, EC. As redes sociais e suas propriedades emergentes como a inteligência coletiva. A criação do comum e da subjetividade. Revista Digital de Tecnologias Cognitivas. São Paulo, n.2, p. 48-59, jul./ dez. 2009. Acesso em: 30 de julho de 2015.

BRASIL. Departamento de DST, AIDS e hepatites virais. Acesso em: 20 de julho de 2015.

CASTIEL, LD.; VASCONCELLOS-SILVA, R. Internet e o auto-cuidado em saúde: como juntar os trapinhos? História, Ciências, Saúde–Manguinhos, 9 (2): 291-14, 2002.

DAQUINO, F. A História das Redes sociais: Como Tudo Começou. Tecmundo. Acesso em: 30 de julho de 2015.

DIZARD Jr., W. A nova mídia: a comunicação de massa na era da informação. Rio de Janeiro : Jorge Zahar Ed., 2000.

FACEBOOK. Aprendendo sobre HIV e AIDS.

GARBIN, HBR; PEREIRA NETO, AF; GUILAM, MCR. A internet, o paciente expert e a prática médica: uma análise bibliográfica. Interface (Botucatu), Botucatu ,  v. 12, n. 26, p. 579-588, Set.  2008.    

HINE, C. Virtual ethnography. London: SAGE Publications, 1998.

LEECCC. Laboratório de Etnografia e Estudos em Comunicação, Cultura e Cognição. PROPPI.UFF.BR/LEECCC. Niterói.  Acesso em 15 de julho de 2015.

LÉVY, Pierre. Cibercultura. São Paulo: Editora 34, 1999.

MERCADO, LPL. Pesquisa qualitativa on-line utilizando a etnografia virtual. Revista Teias v. 13 • n. 30 • 169-183 • set./dez. 2012.

MONTEIRO, L. A internet como meio de comunicação: possibilidades e limitações. INTERCOM – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXIV Congresso Brasileiro da Comunicação – Campo Grande /MS – setembro 2001. Acesso em 10 de julho de 2015.

O’REILLY, T. What Is Web 2.0: Design Patterns and Business Models for the Next Generation of Software. USA: O’Reilly Publishing, 2005.

PRESS, TA. Another Redesign For Facebook On 6th Birthday. National Public Radio. February 5, 2010.

SHAPIRO, J. Patients turn to online community for help healing. National Public Radio. November 16, 2009. Acesso em 10 de julho de 2015.

STOTZ, EN. Redes Sociais e Saúde. In MARTELETO, R.M.; STOTZ, E.N. organizadores. Informação, Saúde e Redes Sociais: diálogos de conhecimentos nas comunidades da Maré. Rio de Janeiro: Fio Cruz; Belo Horizonte: UFMG;2009. 176 p.

TECMUNDO. 20 anos de internet no Brasil: aonde chegamos?  Acesso em 30 de julho de 2015.

TURKLE, S. La vida en pantalla: la identidad en la era de internet. Barcelona: Paidós, 1997.

UZZELL, D; BARNETT. Pesquisa etnográfica e pesquisa-ação. In: BREAKWELL, Glynis M. et al. Métodos de pesquisa em Psicologia. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2010. p. 302-320.

TIC Domícilios 2014.

VELDEN, MV.; KHALED, EE.“Not all my friends need to know”: a qualitative study of teenage patients, privacy, and social mediaJ Am Med Inform Assoc. v.20, n.4.2013 Acesso em 12 de julho de 2015.

WIKI NEXT. Eixo das redes sociais na saúde. Acesso em: 12 de julho de 2015.

WIKIPEDIA. Internet.

WIKIPEDIA. Facebook.

WIKIPEDIA. Vírus da imunodeficiência humana.

WIKIPEDIA. Pierre Lévy.

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